quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Divagações antigas - 2005


A infância há muito se perdeu nas fotos amareladas na gaveta.
A tarde hoje tinha cheiro de infância, naquele tempo em que cismava
em ficar na janela vendo o tempo nublado...frio... e mil sonhos a
rondar minha mente.
Pouco restou em mim da menina sonhadora.
Hoje, mulher, meus sonhos se desfazem facilmente e quando não me
contento com pouco, fico do outro lado, no limiar do desespero, por
querer tudo e tão pouco terem pra me oferecer.
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Hoje acordei com uma sensação de nova vida...
De repente me dei conta da minha atual situação... alguns medos batem à minha porta."-Medos são normais!" Diria alguém. Porém meus medos são meus e a tendência humana é supervalorizar o que é seu. Portanto, eles são imensos e assustadores!

Normal é ser feliz, é conseguir exorcizar os fantasmas do passado e sair incólume disso tudo. Às vezes me sinto perdida, sem bússola, sem norte, sem poente...e choro. Pareço criança querendo o colo da mãe. Em outros momentos, me sinto forte e com um poder indestrutível, pronta pra enfrentar qualquer coisa. Toda essa gama de emoções fazem parte do meu eu e penso se um dia vou conseguir "endurecer" um pouquinho... Claro, sem perder a feminilidade, sem ficar amarga e me sentindo mal-amada. Quero tudo, mas com um toque da minha essência, que sei, nunca se perderá.
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(Nil)

Esperança


A esperança alimenta o amor
Dela ele tira forças pra continuar
Pra se refazer todos os dias
Mesmo diante de todas as dores
O amor está ali porque
A esperança traz um certo tipo de conformação
Que faz com que o coração salte
Apenas com uma pequena atenção do ser amado.
O amor é nutrido assim
E ele não morre
Porque a esperança se fortifica
Continua
Insiste
Até que talvez um dia
Deixe de esperar algo...
E então o que seria do amor sem esperança?
Ele existiria?

(Nil)

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

TPM



TPM é uma miséria! Essa maldita nos provoca reações que faz com que percamos um pouco o senso, a lógica, o chão, a certeza, a força e sei lá mais quantas coisas perdemos nesses dias. É cruel!

Tem mulher que passa incólume por esses dias? Pois essa raridade merece um prêmio ou algo que vale mais. Conseguir manter a sanidade nesses dias, pra mim, é quase impossível. Pois tudo vem com mais força do que os outros dias: a dor, a sensibilidade, o amor, o ódio, a incerteza, a auto-estima cai no chão, o espelho é o inimigo número 1... E as dores? Ah vou lhe contar das dores, nas pernas, dor de cabeça, nos braços, no corpo todo, dói e você simplesmente tem que esperar, afinal vai passar, como todo o resto. Mas enquanto não passa, como sorrir e ser boazinha nesses dias? Eu quero mais é me trancar, comer chocolate, chorar, comer chocolate, sorrir de raiva porque vou engordar, chorar de novo, lembrar de todas as coisas que me emocionaram ou me decepcionaram e desejar que tudo vá pro inferno.

Se consigo falar do assunto agora é porque a TPM ainda não exerceu nenhuma influência sobre mim, ainda, este mês. Mas ela virá... E isso é uma certeza, talvez venha mais amena em um mês, porém espere mais do próximo. Ela simplesmente não pula etapas, não pula mês. Esteja você feliz ou infeliz, os hormônios estão ali e fazem parte de você, é o que torna sua condição feminina possível. Podia ser mais simples? Algo mais contido? Mas não é, não pra todas.

Quem disse que ser mulher é fácil??? Não é, mas não troco isso por nenhuma outra versão de ser humano que exista. Mesmo porque, a outra versão não suportaria isso, não é? ; )

(Nil)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Pessoas que valem a pena ler...

POR NÃO ESTAREM DISTRAÍDOS

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.

Clarice Lispector

"Para não esquecer" - 5ª ed. - Siciliano - São Paulo, 1992

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Considerações...

Ano passado, em um dia normal de trabalho, logo pela manhã, recebi a notícia ruim de que uma amiga estava com câncer. Isso me deixou baqueada, porque gosto muito dela e além do mais, o fato de uma doença tão próxima em uma pessoa querida, me fez questionar vários valores e também quem sou e qual meu propósito nesta vida.

É engraçado como à medida que envelhecemos, esse tipo de notícia torna-se lugar-comum e é algo assustador pra mim, embora sempre tenha a tendência a manter a serenidade.

Somos tão limitados, não é? Somos limitados quando pensamos que algo como uma doença séria nunca acontecerá conosco. Somos limitados quando deixamos a vaidade tomar conta da nossa vida, a ponto de não valorizar os pequenos gestos que o outro nos faz de bom grado. Somos limitados quando mentimos pra encobrir outras mentiras, ao ponto delas virarem uma bola de neve ou um fio tão intrincado que não sabemos como desenrolar. Somos limitados quando nos sentimos no direito de sermos superiores àqueles que nos amam, pelo simples fato de sabermos que o outro está inseguro e com um medo enorme de rejeição. Somos limitados quando não percebemos o valor do outro. Quando não acreditamos no amor, na felicidade, no bem-querer sem nada em troca... Somos seres limitados e nos julgamos dotados de grande razão.

Fiquei me questionando e ainda não cheguei a nenhuma conclusão, nem sei se quero chegar... Limito-me, também, quando quero achar solução pra tudo. Simplesmente quero viver tudo que puder. Fazer tudo que tiver ao meu alcance. Sentir a força do amor em tudo que faço. Eu sou um ser mutável, mas ainda estou presa a algumas coisas, a padrões de comportamento; a querer ser a sutileza em pessoa, sempre, a ter essa discrição inata... Às vezes penso em me libertar dessas coisas, mas quando me olho por dentro, vejo que sou um ser livre, que têm pensamentos grandiosos, mais insensatos que sensatos. Porém, não me sinto um ser fraco e sim dotado de grande força, grande abnegação... E de uma enorme gama de sentimentos controversos, todos voltados pro amor. No fim, sempre o amor. Então pra que e pra quem devo mudar isso?

Cansei de me perguntar o porquê das coisas não serem como eu quero. Sou uma mulher adulta que vive no limiar da adolescência e da maturidade. Comporto-me como adolescente quando fico esperando por algo que nunca vem e que penso me pertencer, mas não consigo alcançar. Quando fantasio demais situações e momentos. E por outro lado me comporto com maturidade, quando percebo a ridicularidade de algumas situações em que vivo e balanço a cabeça numa negativa pra mim mesma e bato na testa tentando me acordar... E sorrio secretamente da menina boba que sou. São duas vivendo dentro de mim e tentando coexistir sem grandes dramas. Sou uma mulher completa e madura quando me olho no espelho e diante das minhas marcas do tempo não me deixo abater e penso que mais que nunca sou um ótimo partido, uma ótima companhia, uma amante audaciosa, uma mulher sem falsa modéstia e cheia de vida, que depois de muito esforço conquistou e incansavelmente preserva seu espaço com amor e respeito. Que oferece aquilo que pode dar, sem medos ou amarras.

Depois de todas essas conjecturas daquilo que sou e pretendo continuar sendo, não chego a uma conclusão, acho que nunca foi isso que desejei. No dia que tiver todas, se tiver... Não terei mais motivos pra viver em nenhuma fronteira, apenas a da certeza e essa nem sempre me apetece.



Não sou doida no sentido pleno da palavra, talvez seja um pouquinho só e um tantinho utópica, mas tudo isso tem explicação na maioria das vezes ou não...

O que posso considerar mais? Talvez o fato de que respeito o território do outro e penso sempre até onde é possível ir sem agredir ou invadir o espaço, sem impor a presença e torná-la desgastada. Quero isso pro outro e quero isso pra mim. Quero todos os pontos demarcados, sem neuras, apenas com a certeza de que, a cada novo amanhecer, todo esforço ainda continua valendo a pena.

(Nil)