domingo, 31 de janeiro de 2010

Diálogo

- Foi assim do nada, veio rondando a minha porta, em silêncio, sorrateiramente... foi assim...

- como?

- Assim, desse jeito bobo e, ao mesmo tempo, tão intenso. Me senti fatigada, muito fatigada pra tentar escapar.

- Mas você nem tentou?

- Ah tentei, tentei sim, mas é que sou assim, sabe... aquele tipo de mulher que se entrega, se joga de cabeça, faz um monte de bobeira uma atrás da outra. E foi assim, ele foi chegando e de repente me senti dominada, tomada por pitadas de loucura. Dessas loucuras que eram tão boas, tão sublimes... tão cheia de razão. Parecia razão às vezes, mas só às vezes... mas de repente se tornou loucura de verdade. Amar é isso?

- Não sei, nunca amei.

- Como assim nunca amou?

- Ah, sou razão sempre, sem coração, dizem..

- Então me ensina.

- Ensinar o que?

- A ser assim, sem coração.

- É muito simples, feche-se no seu mundo, doa-se completamente ao seu trabalho, não escute o conselho das amigas mais experientes, ou melhor, não tenha amigas. Não aceite um homem na sua vida, não ame, não sinta, não saia, não viva, vire máquina.

- Você falou que era simples.

- Mas é.

- Me anular nunca será simples.

- Eu não me anulei, simplesmente deixei de sentir.

- E como se sente?

- Não sei, eu não sinto.

- Está entorpecida?

- Devo estar...

- Que triste...

- Você vai tentar?

- O que?

- Deixar de sentir.

- Não, mas você me fez enxergar algo muito importante.

- O que?

- Que continuar sentindo, não fugir, é completamente surreal e essa sensação não troco por nada, nem mesmo pela sanidade que você me transmitia há alguns minutos.

- Prefere continuar enlouquecendo então?

- Sim... e já vou de novo...

- Vai aonde?

- Continuar vivendo e enlouquecendo, afinal eu sou assim, sabe?

- !?


(Nil)

Voz...

Tem uma vozinha dentro de nós que fala sempre o contrário do que queremos. Aquela voz que nos manda tomar vergonha na cara, seguir em frente, que diz para pararmos de fazer algo de errado no exato momento do “delito”. Que diz: Para, segue, assim não, não é por aí....” mas nós insistimos em ignorá-la, até que um dia resolvemos escutar, porque é necessário, porque cansamos de ignorar nossos instintos, nossa razão precisa ouvir e então percebemos, sentimos o calor daquela voz com o dedo em riste apontado bem na nossa cara dizendo: “Eu avisei!!!”.

Acerca dos homens...

Dizem que os homens nunca crescem. São eternas crianças à procura da mãe que existe em toda mulher. Mas fico pensando, será que estamos dispostas a isso? A sermos mães de marmanjos que nunca crescerão? Isso é muito limitante, é quase como uma sentença: você está eternamente condicionada a aceitar o homem assim, desse jeito infantil, que faz birra, pirraças, fica mudo, provoca ciúmes, recusa o que você oferece, como se dissesse:”sou assim, é a minha natureza”.

O tempo passou e você cresceu, deixou de ser adolescente, evoluiu como mulher, amadureceu, não aceita mais migalhas, mais atos de indiferença e infantilidades de nenhum homem. O que você quer é um parceiro de verdade, que dá a cara a tapa, que tem a coragem de ser homem, de ser pleno!

Por que só nós temos que ceder sempre? Por que só nós nos comportamos como verdadeiras e intensas, que é o que nós somos na realidade?

Sinto que ser mulher foi um presente dos céus, uma maneira da vida me agraciar e me fazer ter orgulho da minha condição. Eu cresço a cada dia e ainda tento ajudar o outro a crescer, se isso não acontece, me abstenho de qualquer culpa, sou mais eu e ponto!


(Nil)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Pessoas que valem a pena ler

"Mas dirás assim, por exemplo, como você sabe, a gente, as pessoas infelizmente têm, temos, essa coisa, as emoções, mas te deténs, infelizmente? o outro talvez perguntaria por que infelizmente? então dirás rápido, para não te desviares demasiado do que estabeleceste, qualquer coisa como seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente, insistirás, infelizmente nós, a gente, as pessoas, têm, temos - emoções."


"As pessoas falam coisas, e por trás do que falam há o que sentem, e por trás do que sentem, há o que são e nem sempre se mostra. Há os níveis não formulados, camadas inperceptíveis, fantasias que nem sempre controlamos, expectativas que quase nunca se cumprem e sobretudo, como dizias, emoções que nem se mostram."

"Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.
A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão."


Um pouco de...



.Caio Fernando Abreu.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Ponderações


Um dia a menina cheia de sonhos, que acreditava em príncipes, casou. Viveu feliz, teve filhos e pensou que a vida era perfeita. Mas não era, ela descobriu depois. Foi traída, sofreu, seu mundo caiu e algo morreu dentro dela. Ela perdoou, seguiu em frente no seu mundinho sem grandes novidades. Certa vez ela olhou pra fora, pela janela ela viu um jardim verde, muito verde e quis ter aquilo. Então seu mundinho se tornou frívolo, sem sabor e ela voltou a sonhar.

Ela ousou sair, ver o jardim de perto... Colocou as pontas dos pés na soleira da porta e parou. Ficou pensativa: “Será que devo? Afinal esse não é meu mundo”. Olhou pra trás e viu que seu mundo não tinha as cores que queria. Criou coragem, seguiu em frente, colocou braços e o corpo todo pra fora, sentiu o vento fresco no rosto, sorriu... Foi conhecer outro mundo, aquele jardim verde e convidativo.

Com o novo mundo ela sentiu prazeres infindos. Sentia-se ela mesma, pura e simples. No final de tudo tinha que voltar pro seu mundo, pra mesma rotina. Só que agora ela tinha um segredo, um jardim verde e florido, por onde podia correr, sentir prazer e ser uma pessoa autêntica, cheia de alegria. Então ela ficava entre esses dois mundos. Só que se apaixonou pelo jardim e de repente voltar ficava cada vez mais pesado, mais difícil. Ela tinha que fazer uma opção, mas envolveria questões maiores, poderia viver entre os dois mundos até o fim... Mas algo aconteceu e seu jardim fechou, acabou a alegria, o prazer e a dor voltaram com força! Ela se fechou na sua rotina, quis resgatar a antiga alegria que sentia ali, mas por mais que tentasse não conseguia, pois aquele jardim tão perfeito não saía das suas lembranças, dos seus mais loucos sonhos... E a vida continuava.

Aquele jardim permaneceu, ela já não vislumbrava mais seus recantos, mas ele estava lá fora, ela sabia. Um dia, quis o destino, por uma força poderosa qualquer, que seu segredo fosse descoberto e ela não conseguiu negar, assumiu o erro e perdeu uma parte de seu mundo menos colorido.

Descobriu que algumas coisas permanecem pra sempre e nessa descoberta saiu mundo afora, agora em outra situação, livre das amarras que a prendiam. Agora podia conhecer outros jardins e não sentir culpa. Desse primeiro passo outras novas descobertas surgiram e uma delas foi que nem todos os jardins eram iguais, tão verde quanto aquele dos seus sonhos. Ela tentava recriar novas flores, novas cores, novos momentos de alegria, mas era tão difícil e o pensamento sempre caía no seu oásis. Estava feliz sim, apesar de tudo. Havia amadurecido, resgatado sua autoconfiança, estava bem e as lembranças se tornaram doces, afáveis. Ela jurava pra si mesma que um jardim não a faria sucumbir e resolveu se embrenhar nele de novo, pra saber se algo havia mudado...

Porém ao se deparar com uma ponta de um riacho, seu som, seu frescor, apenas um pequeno pedaço, nem chegou a entrar no jardim todo; o sentimento adormecido voltou e seu coração começou a bater descompassado e lembranças dos momentos vividos entorpeceram seus sentidos. Entrou num limiar difícil de voltar dessa vez. Ela soube que aquele lugar foi o que sempre quis... A sua ponta de paraíso estava ali, verde e florido... Só que com uma pequena proibição: a sua entrada seria limitada. Sua reação diante disso foi aceitar, porque sonhava que ainda poderia correr por ali sorrindo, feliz como antes.

A promessa de paraíso tornava seus dias mais alegres, o alimento que vinha dele, pequenas notas e cheiros, animava algo dentro dela.

Hoje ela ainda sonha com seu jardim, porém as limitações tornam seus momentos ali mais difíceis de serem alcançados, ela pondera se ainda vale a pena insistir na sua entrada e permanência, mesmo diante das promessas de tantas delícias e prazeres.

Seu mundo está ali, ela sabe... Mas lutar contra o tempo numa guerra injusta faz com que ela pondere até quando pode continuar de pé, sonhando e ansiando por momentos já vividos e revividos em seus sonhos. O senso do real atormenta seus dias e ela quer se perder no seu jardim, fazer alguma loucura pra entrar logo e nunca mais sair dali... Porém pensa até que ponto vale a pena continuar sonhando ou se deve decidir conhecer outros jardins, que de repente até podem esconder doces e instigantes paisagens. Ela precisa ponderar ainda, escolher e já está tão cansada de tentar entrar e sentir a porta bater na sua cara.

O quanto um jardim é importante até se tomar a decisão de voltar atrás? De fugir correndo e descobrir novos horizontes? Ela ainda pensa, é difícil fugir dali, mas está disposta a ter outras chances, mesmo que seu mundo naquele jardim aconteça um dia.

Ela pondera, mas quer viver, precisa viver. Ela sabe que merece isso.

Quando o jardim vai abrir suas portas de vez e deixar um mundo novo entrar no seu sangue? Vislumbrar a paisagem da soleira já não satisfaz mais sua sensível personalidade, ficar olhando de longe o que ela tanto quer em suas mãos atormenta seus dias e ela pondera, continua ponderando... Até quando???

(Nil)


Limiar

O meu eu de poetisa
vibra com versos imprecisos
E deixa revelar
apenas uma parte de si
nunca entrega tudo
Fica no limite
entre a candura e a insensatez.

(Nil)

Compasso

Um pouco de matéria, carne, sangue e pensamento...
Pra me entender é tão simples, não vê? Leia os sinais que deixo ao longo do caminho... Não preciso falar, mas ouça, leia, invista, insista... Mas na medida certa, sem deixar faltar e nem transbordar nem uma única gota!

(Nil)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Sutil


Sou uma mulher de entrelinhas
A revelação, na maioria das vezes, está diante
dos olhos, não vê?

(Nil)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Pessoas que valem a pena ler...

"Sempre desprezei as coisas mornas, as coisas que não provocam ódio nem paixão, as coisas definidas como mais ou menos, um filme mais ou menos, um livro mais ou menos. Tudo perda de tempo. Viver tem que ser perturbador, é preciso que nossos anjos e demônios sejam despertados, e com eles sua raiva, seu orgulho, seu asco, sua adoração ou seu desprezo. O que não faz você mover um músculo, o que não faz você estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da sua biografia…”

. Martha Medeiros .

(Trecho do Divã)

Ausência

O que é uma ausência?
Uma falta carcomida no peito
Doendo uma dor besta
Uma dor vazia da presença de alguém
E então de repente meu braço ficou só
Minhas mãos ficaram geladas na ausência das suas
Minha boca ficou amarga com a falta dos seus beijos
Meu corpo ficou frio sem a sua virilidade
Minha vida perdeu a cor
O tom, o som
O tesão
O brilho
E aí você se foi
Deixando um buraco aqui onde antes batia meu coração
E agora, o que faço?

(Nil)

Certeza

Eu quis um dia ser sua
Com tanto fervor que doía
Com tanta vontade
Que enlouquecia
Ainda me perco
Em pensamentos avulsos por você
Cada um no seu canto secreto
Guardados como relíquia
Aonde só eu sei e
Ficará para sempre.

(Nil)

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Ânsia

Não sei o que me angustia hoje
Mas algo acontece aqui dentro do peito
Algo maior que eu mesma e
Toda vez que ouço a canção que lembra você
Sinto o mundo cair sobre mim
Sobre meus sonhos
E a angústia vem aos borbotões
Como uma enxurrada alagando tudo
Enchendo cada cantinho de lembranças
E cada veia, cada poro,
Cada célula, cada espaço de mim
Grita seu nome.
(Nil)

Tempo

Se me perco em alguns momentos

É por me encontrar

Verdadeiramente em estado de letargia

Não por querer

Mas porque o tempo se impõe

Fatidicamente

Nada sorrateiro

Como um tufão vindo em círculos

E me tomando inteira

Vida, arte, sonho, pensamento.

Nil

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Resignação


Uma tarde de saudade
De lembranças intermináveis
Uma vontade louca de mandar às favas qualquer
Resquício de brio, de vergonha na cara...
Entretanto, maior é a certeza de que nada do que eu fizer,
Mudará o que está escrito.

(Nil)

domingo, 10 de janeiro de 2010

Inspiração II

Surpreendo-me com as palavras
Os sons e tons
Sinto a poesia se transformar
em algo quase sonoro
como os tique-taques
do relógio
na parede da sala.

(Nil)

Inspiração

A poesia entrou na minha veia
Correu no meu sangue
E me tomou inteira
Sinto-me prestes a explodir
Com tantas palavras
Soltas e prontas
Pra saltar de dentro de mim.

(Nil)

Eu


Se ontem eu era interrogação, hoje sou reticência, sem ponto nem vírgula, sem exclamação, sem explicação. Sou TODA eu e fim


(NIL)